Convívio e debate em torno desta publicação libertária
Dia 22 de Dezembro – Sábado - 17 horas
no Centro de Cultura Libertária
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Editorial do Húmus nº 4
Um período mais longo do que o habitual separou o lançamento deste quarto número da revista Húmus em relação ao seu predecessor. Felizmente, este espaço de tempo foi relativamente abundante em acontecimentos e projectos que apostaram em romper com o habitual marasmo conformista deste país em que a contestação fora dos limites estabelecidos e dos enquadramentos institucionais acaba quase sempre por parecer aos olhos de muitos como algo de exótico.
Na tarde de 25 de Abril, precisamente quando o tradicional e rotineiro desfile comemorativo acabava de percorrer a Avenida da Liberdade, arrancou da Praça da Figueira uma manifestação antiautoritária, antifascista e anticapitalista, composta por cerca de cinco centenas de pessoas determinadas em fazer da Liberdade algo mais do que um nome de avenida, contra o domínio do Estado e do Capital sobre as nossas vidas e contra a crescente presença da extrema-direita na sociedade. Após o término do percurso do protesto no Largo de Camões, um grupo de centena e meia de manifestantes, que resolveu prolongar a manifestação, foi cercado e atacado pela polícia na Rua do Carmo, tendo resultado deste confronto vários feridos e onze detidos.
Ainda no dia 29 desse mesmo mês de Abril foi ocupado em Coimbra um edifício pertencente aos antigos hospitais da universidade. O objectivo dos ocupantes era “a criação de um espaço diferente, de debate e convivência num ambiente anti-capitalista e anti-autoritário”. O projecto durou até ao dia 11 de Julho, quando o edifício foi desocupado pela polícia.
No início de Junho, enquanto se realizava na Alemanha a cimeira do G8, também em território português várias iniciativas marcaram os protestos contra os poderosos deste mundo.
Em Abril, em Aljustrel, e em Julho, no Porto, libertários de várias proveniências reuniram-se para debater e encontrar formas de superar os problemas de comunicação e união no “movimento” libertário. Foi mais um passo, não menos importante que outros que continuam a ter lugar, no sentido de criar lugares de debate entre anarquistas, que possibilitem uma maior comunicação e a criação de possibilidades de convergência na acção.
Em Agosto, a acção do movimento “Verde Eufémia” contra os Organismos Geneticamente Modificados, através da destruição de um hectare de uma plantação de milho transgénico em Silves, interrompeu a calmaria do Verão, enfurecendo os defensores da propriedade privada e da “liberdade” de negociar à custa da biodiversidade e da saúde das pessoas.
Em Outubro, a COSA – casa ocupada em Setúbal –, comemorou os seus sete anos de resistência com um programa vasto que incluiu, entre outras iniciativas, debates, emissões contínuas de rádio e mesmo um percurso pela memória anarquista da cidade de Setúbal.
A manifestação de 25 de Abril e o episódio da ceifa de Silves seguiram-se de um alucinante circo mediático armado em torno dos mesmos. No primeiro caso, o total desconhecimento dos media em relação a quem eram e ao que movia os manifestantes deu lugar à invenção da notícia e a uma posterior “caça ao anarquista” em busca de matéria para escrever artigos sensacionalistas. Já no segundo caso, o movimento “Verde Eufémia” tentou servir-se dos media para veicular a sua causa, anunciando previamente aos mesmos a sua acção. As imagens da acção, repetidamente veiculadas por noticiários televisivos e por jornais, suscitaram uma reacção massiva dos escribas e porta-vozes do “Estado de Direito democrático” contra a violação da propriedade privada.
Concluindo, o tratamento mediático dado a ambos os acontecimentos enquadrou-se maioritariamente na já frequente lógica de criminalização, folclorização e, assim, tentativa de isolamento dos contestatários, reconfirmando as limitações (ou impossibilidade?) das estratégias de utilização dos media por movimentos sociais que escapem às lógicas de participação-integração-neutralização democráticas.Neste contexto de totalitarismo democrático-capitalista, em que qualquer acção de contestação é rapidamente classificada pelos aparelhos mediático-policiais como perturbadora da “ordem pública”, logo “anti-democrática”, é de saudar o aparecimento de cada vez mais projectos de informação alternativa. Tão só nos meios libertários assistimos ao aparecimento de publicações impressas como o Pica Miolos, o Alambique e o Motim e de projectos como a Rádio Libertária on-line, para além dos inúmeros blogs e sites contra-informativos que vão povoando a Internet. O cenário editorial libertário é hoje mais fértil do que quando, há cerca de ano e meio, arrancámos com o projecto da revista Húmus. E, se de nós depender, esta tendência continuará a aprofundar-se.