quarta-feira, 22 de junho de 2016

Morreu Júlio Carrapato

Morreu Júlio Carrapato, "anarquista algarvio, tradutor, livreiro, editor, professor universitário, mas sobretudo um homem que gostava da vida e da liberdade".

O funeral do companheiro Júlio está marcado para sexta-feira 24, às 14h, no Cemitério Velho de Faro.



No posfácio d' "O Ladrão" (ed. Sotavento, 1979) escreveu ele:
"O individualismo extremo de Georges Darien não deve, no entanto, ser considerado caricaturalmente como uma evasão solipsista ou um diálogo, por assim dizer, efectuado de si para consigo pelo homem só. Menos ainda tem que ver com a dura concorrência da sociedade capitalista, com a luta de cada um contra todos, justificada de maneira pseudo-científica pela famosa adaptação da "Struggle for life". Que os socialistas ou os comunistas autoritários, da corrente abertamente totalitária ou da corrente hipocritamente democrática, assim queiram estigmatizar os homens cuja estatura os ultrapassa e cuja indocilidade à linha justa os amedronta, compreende-se. Como se compreende o epíteto insultuoso de pequeno burguês, gritado a esmo para caracterizar a mais pequena veleidade de independência de espírito. Nem podiam raciocinar de outra maneira os sinistros candidatos a pastores que, na melhor (ou na pior) das hipóteses, gostariam de converter o já de si degradante agregado humano numa colmeia de abelhas."

Escrevem os companheiros do Portal Anarquista:
"Chega-nos a notícia da morte de Júlio Carrapato. O anarquista algarvio, tradutor, livreiro, editor, professor universitário, mas sobretudo um homem que gostava da vida e da liberdade, morreu esta terça-feira em Faro e o seu corpo será autopsiado esta quarta-feira, não se sabendo ainda quando terão lugar as cerimónias fúnebres
Júlio Carrapato (1947- 2016) esteve ligado ao grupo “Acção Directa”, nutrindo especiais relações de proximidade com elementos deste grupo forjadas em Paris, onde vários dos seus elementos estiveram refractários à guerra colonial; pertenceu depois ao grupo “Apoio Mútuo”, de Évora, onde foi professor nos primeiros tempos da Universidade; criou mais tarde o jornal “O Meridional”, um dos ícones da imprensa libertária pós 25 de Abril.
Regressando a Faro, de onde era natural, abriu a livraria e as edições Sotavento. Entretanto, e posteriormente, traduziu diversos clássicos da literatura anarquista: “O Povo em Armas”, de Abel Paz; “O Ladrão”, de George Darien, entre outros, e escreveu um conjunto vasto de livros em que se destacam: “Resposta de Um Anarquista aos Últimos Moicanos do Marxismo e do Leninismo, assim como aos inúmeros Pintaínhos da Democracia”, “Novas Crónicas Bem Dispostas”, “Os Descobrimentos Portugueses e Espanhóis ou a Outra Versão de uma História Mal Contada”, “Para uma Crítica Libertária do Direito seguido de A Lei e a Autoridade”, “Subsídios para a Reposição da Verdade sobre a Guerra Civil de Espanha”.
Há um par de anos foi operado a um cancro do pulmão. Morre agora uma das vozes mais inconformadas e irreverentes do anarquismo português do pós-25 de Abril, capaz das maiores polémicas em torno dos valores do anarquismo – e da necessidade de separação de águas relativamente ao marxismo e aos vários esquerdismos que gravitavam à sua volta – mas sempre fortemente solidário com todos os que se reivindicavam da prática anarquista pura e dura, sem quaisquer cedências ao politicamente correcto."

https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2016/06/21/morreu-o-anarquista-algarvio-julio-carrapato-cidadao-do-mundo/